
Mas é mais forte do que eu. Há anos que me sento em frente a um ecrã branco e preencho-o de caracteres pretos, criando a ilusão que desta forma encho os meus dias e dou uma ajuda a mais algumas pessoas, os meus leitores, que naquilo que lhes escrevo, encontram respostas e soluções para tristezas e enigmas que o meu conhecimento não alcança.
O meu apego às palavras é tão grande que são elas o princípio, o meio e o fim da minha existência, a única forma que alcanço para me relacionar com os outros e com o mundo. E também comigo, quando falo sozinha com os meus botões e procuro respostas e explicações para tudo.
E depois, depois há as palavras dos outros. As de todos os escritores cujos livros conversam comigo na minha casa, que vou descobrindo nas minhas viagens. Histórias perfeitas e parágrafos sublimes que vou coleccionando com o prazer e a culpa de quem se apropria de tesouros alheios. E quando as palavras que os outros escrevem dizem o que sinto, sinto-as como minhas e registo-as num caderno, no telemóvel, num guardanapo de papel, para mais tarde as oferecer a alguém. Aforismos, diálogos, monólogos, descrições de uma personagem, de uma casa, de um lugar. Frases soltas, reflexões, princípios filosóficos, abreviaturas, nomes, alcunhas, diminutivos, expressões idiomáticas, provérbios e ditados populares, tudo serve para me entender melhor com a realidade.
Mas talvez não seja assim. Talvez tenha escolhido o caminho oposto para alcançar o entendimento. Quanto mais penso, me organizo e me respondo, mais dúvidas tenho e menos satisfeita me sinto. A pouco e pouco, comecei a perceber que não há respostas para tudo. E as poucas que existem, ou são erradas ou são absurdas.
E é então que baixo os braços, entrego as armas e desisto a favor do silêncio, que é tudo o que me resta. Mas o silêncio nunca traz respostas. Instala-se como um tirano que ocupa todas as casas e jardins do mundo, que se esconde atrás da indiferença, do desinteresse, do vazio, da distância, tentado convencer-me de que é melhor assim, como se as palavras vivessem todas na caixa de Pandora e fosse um crime para a humanidade abri-la e deixá-la respirar.
Um dia destes faço um furo na caixa, daqueles invisíveis, tipo formiga branca, e começo a ver as palavras a sair numa coluna de fumo, uma a uma, quase sem se dar por isso.
(amo-te namorado, obrigado pela tarde de ontem! aqui ficam os meus parabéns, Hélia)
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A tua chave está perdida, devias tentar encontrá-la. Aprendi a trazer a minha pendurada ao pescoço, onde às vezes também ponho o coração, que tem andado demasiado fora do peito para o que seria recomendável. Sou assim, gosto de acreditar que tudo é possível, que os meus sonhos, se forem bons para mim e o melhor para o mundo, se podem realizar.